sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O perigo da teologia da prosperidade




O perigo da teologia da prosperidade



Autor o Presbítero e Professor Jânio Santos de Oliveira

Estamos vivendo um tempo em que o cristianismo que está sendo pregado por aí é muito mais triunfalista do que realista. Chegamos a conclusão de que a mensagem da cruz foi substituída pela mensagem mercantilista do “seja feliz, custe o que custar”.

 A cada dia vemos a propaganda enganosa desta falsa teologia chamada prosperidade, que na realidade nada mais é do que uma mistura de misticismo e positivismo, com as águas e óleos ungidos, afastando-se da mensagem bíblica consistente e fundamentada.


A verdadeira prosperidade não é aquela que diz que cristão não sofre, que sempre tem dinheiro, saúde e sucesso. Olhando atentamente as Escrituras veremos que todos os grandes homens e mulheres da Bíblia passaram provações, dificuldades e sofrimentos. Veja o exemplo de Jesus. Em Hebreus 5:7-9 (NVI) podemos ler assim: “Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão. Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.”. Qual a diferença entre Jesus é nós? O próprio Filho de Deus passou por lutas e provações. Ele aprendeu no sofrimento. Isso é bem diferente do que se prega hoje em dia.


Nenhuma Teologia jamais fez tanto sucesso no Brasil quanto à Teologia da Prosperidade. Alavancada a partir de ministérios neopentecostais e até de alguns movimentos considerados como seitas, essa teologia tem atraído milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em países pobres, onde a fé do povo pode ser mais facilmente explorada.


Movidos em primeira mão por suas necessidades básicas, mas em seguida por outras motivações não tão dignas, quanto à inveja, a ganância, o poder, etc, muitas pessoas buscam a Deus tão somente por aquilo que Ele pode oferecer, ignorando o Seu caráter e o desejo do Seu coração de que sejamos pessoas melhores.

Cinco termos hebraicos que descrevem a prosperidade no Antigo Testamento:


1. Tsālēach: a prosperidade como fruto de uma vida bem-sucedida. No Antigo Testamento a palavra hebraica mais comum para descrever a prosperidade é tsālēach, isto é,"ter sucesso", "dar bom resultado", "experimentar abundância" e "fecundidade". Esse termo é usado em relação ao sucesso que o Eterno deu a José (Gn 39.2,3,33) e a Uzias (2 Cr 26.5). No contexto bíblico, a verdadeira prosperidade material ou espiritual é resultado da obediência, temor e reverência do homem a Deus. A Escritura afirma que Uzias "buscou o SENHOR, e Deus o fez prosperar".



 2. Chāyâ: a prosperidade de uma vida longeva. Um outro termo hebraico que descreve a vida próspera échāyâ. Literalmente a palavra significa "viver" ou "permanecer vivo", entretanto, em certos contextos significa "viver prosperamente": "Até que eu venha e vos leve para uma terra como a vossa, terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas, terra de oliveiras, de azeite e de mel; e assim vivereis e não morrereis" (2 Rs 18.32). Em 1 Samuel 10.24, a frase "Viva o rei!", quer dizer "Viva prosperamente o rei!"; "Viva o rei em prosperidade". 



 3. Śākal: a sabedoria que traz prosperidade. Um outro termo muito significativo no Antigo Testamento éśākal. Textualmente significa "ser sábio", "agir sabiamente" e, por extensão, "ter sucesso". Esta palavra está relacionada à vida prudente, ao agir cautelosa e sabiamente em todos os momentos e circunstâncias. Um exemplo negativo que serve para ilustrar a importância do que estamos afirmando é o marido de Abigail. Nabal, do hebraico nābālipsis litteris, "louco", "imprudende", "tolo", demonstrou imprudência, tolice e loucura ao negar socorrer a Davi em suas necessidades. Embora rico, não era sábio e prudente (1 Sm 25.10-17); sua estultice quase o leva à morte pelas mãos de Davi, mas não impediu que o mesmo fosse morto pelo Senhor (1 Sm 25.37,38). Nabal não agiu com śēkel, isto é, "sabedoria", "prudência"; não procedeu com prudentemente, portanto, "não teve sucesso", "não foi próspero". Davi, por outro lado, viveu sabiamente diante de Saul, dos exércitos de Israel, do povo e diante do próprio Senhor: "E Davi se conduzia com prudência [śākal] em todos os seus caminhos, e o Senhor era com ele" (1 Sm 18.14 ler vv.12,15).
 4. Shālâ: o estado de impertubabilidade da prosperidade. O vocábulo procede de uma raiz da qual se deriva as palavras "tranquilidade" e "sossego". O termo significa "estar descansado", "estar próspero", "prosperidade". O termo também diz respeito à prosperidade do ímpio (Jr 12.1). Porém, o foco que pretendo destacar é o flagrante estado de "impertubabilidade" que pode levar ao orgulho. No Salmo 30. 6 o poeta afirma:"Eu dizia na minha prosperidade [shālâ]: Não vacilarei jamais". Provérbios 1.32 revela com muita propriedade que "a prosperidade dos loucos os destruirá". O Salmo 30 descreve o louvor pelo recebimento da cura divina e pelo livramento da morte: "Senhor,  fizeste subir a minha alma da sepultura; conservaste-e a vida para que não descesse ao abismo" (v.3). A salmodia foi composta logo após o restabelecimento da saúde física do salmista. 


Neste poema o rapsodo fala a respeito de sua prosperidade e de como sentia-se seguro, tranqüilo e impertubável até que a calamidade adentrou nos umbrais de sua frágil vida e seu orgulho e confiança na riqueza  foi abatido. A confiança na estabilidade da prosperidade cede lugar à confiança inabalável na bondade divina: "Ouve, Senhor, e tem piedade de mim; Senhor, sê o meu auxílio" (v.10). A prosperidade anunciada por meio do vocábulo shālâpode produzir, como afirma o teólogo Victor Hamilton, "despreocupação" (Ez 23.41; Pv 1.32). Portanto, esse termo afirma o perigo que subjaz na prosperidade. Esta não deve substituir a confiança em Deus e nas santas promessas das Escrituras.
5. Dāshēm: a prosperidade abundante. 


Este termo é mais frequente nos textos poéticos do que nos prosaicos. Logo, trata-se de um vocábulo poético e idiomático hebreu. Literamente significa "engordar", "ser gordo" e, consequentemente, "ser próspero". Em nossa obra, Hermenêutica Fácil e Descomplicada (CPAD) 




I - O QUE NÃO É A VERDADEIRA PROSPERIDADE

A verdadeira prosperidade não é sinônimo de riqueza material, como muitos pensam. Nem sempre um homem rico pode ser considerado como próspero e, da mesma maneira, não podemos dizer que um homem pobre não possa ser próspero. Vejamos alguns exemplos:

Jesus é o maior exemplo, pois Ele veio a este mundo e viveu como pobre (Zc 9.9). O barco onde ele ensinava as multidões, não era seu (Lc 5.3); O jumentinho no qual ele entrou montado em Jerusalém, também não era seu (Lc 19.30-35) e Ele mesmo disse que não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8.20). Quando precisou pagar o imposto, não tinha dinheiro algum, por isso mandou que Pedro fosse buscar a moeda na boca do peixe (Mt 17.27). Nem por isso, Ele deixou de ser próspero, pois cumpriu sua missão e foi exaltado por Deus (Ef 1.20,21; Fp 2.9).


O apóstolo Paulo também sofreu muito e passou por muitas necessidades (II Co 11.24-33). Algumas vezes precisou de auxílio dos irmãos (Fp 4.10-19). Escrevendo aos filipenses ele disse que aprendeu a estar contente com o que tinha. Sabia ter abundância e sabia também padecer necessidade (Fp 4.12-13). Mesmo assim, ele foi um homem próspero. Mesmo sem dispor de Rádio, Televisão, Internet e meios de transportes modernos, pôde ganhar milhares de vidas para Cristo, fundar dezenas de igrejas, treinar obreiros e, através de suas epístolas, contribuir para a edificação das igrejas em todo o mundo.


O Novo Testamento menciona que algumas igrejas eram pobres (II Co 8.2; Ap 2.9). Os cristãos da Judéia passaram por dificuldades financeiras e foram ajudados pelos coríntios e pelos macedônios (II Co 8 e 9; Rm 15.26). Os próprios irmãos macedônios viviam em “profunda pobreza” (II Co 8.2). No entanto, o médico Lucas diz, acerca destas igrejas: “Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo” (At 9.31).
Estes são apenas alguns, dentre tantos outros exemplos bíblicos, de pessoas que, apesar de serem pobres, foram prósperas e cumpriram os propósitos divinos.



II - O QUE É A VERDADEIRA PROSPERIDADE

A  verdadeira   prosperidade   não   se   limita   a   posse   dos   bens   terrenos,   mas,   principalmente   no reconhecimento e na aquisição dos bens espirituais e eternos.

1.  A verdadeira prosperidade é ter a Deus como bem maior:

O salmista Asafe, depois que entrou no santuário, disse: “Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti... para mim, bom é aproximar-me de Deus…“ (Sl 73.25,28).
Quando a multidão estava abandonando a Cristo, e não queria mais segui-lo, Ele perguntou aos discípulos: Quereis vós também retirar-vos? Ao que Pedro lhe respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.67,68).


O apóstolo Paulo disse: “O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3.7,8).
2. A verdadeira prosperidade é possuir riquezas espirituais:

O apóstolo Paulo nos exorta a buscar e a pensar nas “coisas que são de cima” (Cl 3.1,2);
Pedro não tinha prata nem ouro, mas tinham autoridade para curar em nome de Jesus (At 3.1-6);


A igreja de Laodicéia era materialmente rica, mas vivia em miséria espiritual. Por isso, foi repreendida pelo Senhor Jesus (Ap 3.17-18). Enquanto que a igreja de Esmirna vivia em pobreza, e o Senhor Jesus disse que ela era rica (Ap 2.9).
3.  A verdadeira prosperidade é possuir riquezas eternas:

Jesus disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mt 6.19,20);
Lázaro era um mendigo que vivia cheio de chagas, mas, depois da morte, foi levado pelos anjos para o seio de Abraão (Lc 16.19-31);


O apóstolo Paulo disse: “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele” (I Tm 6.7). E o escritor da Epístola aos Hebreus, disse: “Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hb 13.14).
Por  isso,  o  apóstolo  Paulo  diz  que  nós  somos  “...como  pobres,  mas  enriquecendo  a  muitos;  como nada tendo, e possuindo tudo” (II Co 6.10).

III - ADVERTÊNCIAS BÍBLICAS SOBRE AS RIQUEZAS TERRENAS

A Bíblia traz muitas advertências sobre os perigos que envolvem as riquezas. Vejamos algumas:

Jesus disse que dificilmente entrará um rico no céu (Lc 18.24);
O apóstolo Paulo disse os que querem ser ricos, caem em tentação e em muitas concupiscências; e que o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm 6.9,10);
A riqueza pode conduzir a avareza, excluindo-o do reino dos céus (I Co 5.11; 6.10; Ef 5.5; Cl 3.5);
Não devemos colocar a nossa confiança na riqueza (Sl 49.6,7; 52.7; 62.10; Pv 11.28; I Tm 6.17);
Pode tirar a tranqüilidade (Jó 27.19-20; Ec 5.12);
Além disso, a riqueza não garante solução para os maiores problemas do ser humano (Pv 11.4).
IV - COMO OBTER A VERDADEIRA PROSPERIDADE



A verdadeira  prosperidade  é  uma  realidade  que  pode  ser  alcançada  por  qualquer  cristão.  Para alcançá-la, é necessário:

Meditar na Lei de Deus (Js 1.8; Sl 1.3);
Obedecer a Palavra de Deus (Dt 29.9; I Cr 22.13; II Cr 31.21 ; I Rs 2.3);
Reconhecer que a prosperidade vem de Deus (Ne 1.11; 2.20).




CONCLUSÃO


Os dias hodiernos são caracterizados por uma sociedade capitalista e materialista, onde a inversão os valores tem feito com que muitas pessoas, inclusive cristãos, se  apeguem aos bens terrenos e materiais. Muitos vivem numa busca desenfreada pelos bens materiais, a ponto de sufocar a vida espiritual.Cabe a nós, cristãos, o direito de  escolha:  priorizar  os  bens  terrenos  ou  as  riquezas  espirituais.  No entanto, aquele que colocar no seu coração o propósito de buscar as riquezas celestiais e espirituais, poderá desfrutar de muitas bênçãos no presente século, e, principalmente, no século vindouro.

1. A prosperidade verdadeira depende da busca correta na fonte certa: Deus.

2. A prosperidade verdadeira só é possível com o auxílio de um poder sobrenatural: Do céu.

3. A prosperidade verdadeira está na fórmula apontada pela palavra de Deus: a Bíblia.

4. A prosperidade verdadeira depende do foco e atitude de quem a procura: você.

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